Confiram

sábado, 9 de outubro de 2010

A Glória Virtuosa e o Desamparo Caprichoso

André Magalhães
Pensando como um Anjo Louco que sou...

Viver só vale a pena quando temos intensidade nos passos, brilho nos olhos, uma esperança que não se alia à eterna espera, e uma vontade louca de alcançar...Viver é ter compromisso com sua própria felicidade e sempre achando que isso ainda não é o bastante. Quando isso não ocorre, viver deixa de valer a pena. É a falência da sua passagem pelo mundo onde tudo é um jogo e nesse jogo se ganha ou perde-se. Existem os que numa maldita e conturbada tentativa de encontrar o caminho e acertar, lança mãos de todos os artifícios que estão ao seu alcance: falar com Deus, ignorá-lo; consultar oráculos, meditar, antidepressivos, vida moderada, excessos e solidão. Acaba-se até achando que o verdadeiro herói é aquele que vive e se diverte sozinho. Chega-se até definir solidão como: A NOBRE ARTE DE SABER COMO LIDAR COM SEUS MAIS INTIMOS E SAGRADOS EXCREMENTOS SEM DOR. Pura ilusão. A solidão por definição já é uma coisa negativa. Quando o desprezo ao seu povo e a si torna-se inevitável é sinal de que o jogo acabou, findou a guerra, a batalha foi perdida. Para mim existe uma tênue linha entre o acaso e o comprometimento que uma pessoa pode ter consigo. Muitos são felizes por obra da coincidência, outros lutaram para alcançar seus objetivos e tantos outros fizeram tudo ou nada, e as coisas aconteceram independente de seus esforços, busca, vontade ou privações. Há os que se permitem errar sempre e ainda assim alcançar a glória, mas o que realmente não suporto é quando ouço alguém tentar aliviar dores de outrem através de comparações, ainda mais àquelas que visam lhe mostrar que existe sempre algo pior. É como aceitar o inaceitável, admitir e se rogar de satisfeito. Não pode haver semelhanças. O ser humano é individual, somos diferentes e fim. Admiro quando se tem consciência da diferença entre o concreto e o imaginário ou caminha-se para tornar a aceitação da derrota numa coisa melancólica e até sem valor, pois até mesmo a derrota possui. A verdade é que para alguns a perda da auto-estima fica escancarada, permitindo a queda dos seus valores morais, e transforma-se em falta de respeito aquilo tudo que acredita-se sair de um fracassado, e nada na vida vai transformar a remissão em sucesso porque percebe-se que o seu tempo já se passou. Perdeu-se o trem da alegria, não observou a paisagem e agora... Agora a incredulidade passa tudo a limpo sem objeções e deixa a vida sendo vista sem nenhum valor, e a morte a essa altura já não é mais uma idéia e sim uma vivencia, aliás, ela é mascarada diversas vezes no dia-a-dia. Acho surpreendentemente engraçado quando ouço falar em “Efeito Borboleta” sabendo que a tristeza e a derrota de tantos homens não vai fazer a menor diferença para a vida em si. O sol continuará se pondo, a chuva a cair, e as pessoas com seu andar apressado cheias de compromissos continuarão lotando suas agendas. “ELE faz nascer o sol igualmente sobre maus e bons e cair à chuva sobre justos e injustos.” (Mateus, 5,53-45). Imaginar que a batida de asas de uma simples borboleta no Pacífico poderá modificar marés no Atlântico mesmo com o exagero que a frase pressupõe, menospreza mais ainda o destino de um miserável. Só os escassos de imaginação perdem tempo com o sofrimento alheio. O tempo, esse Deus que a tudo aniquila, conseguiu retirar o mais importante de muita subsistência: a vontade de gerar forças para se proteger da destruição, mas que fique claro, eu não maculo essas pessoas das quais lhes falo. Não deu certo e as probabilidades de satisfação eram de uma em dez milhões. Acabou! Foi a falência do senso comum, o transtorno e a obsessão estampada na cara desses pobres mutilados pelo fracasso. A traição que se comete a si mesmo.
A aceitação da derrota.
E se em algum momento algum deles é responsável pela mudança de alguma coisa ou destino, a interferência certamente terá sido casual. O que a eles resta como certeza é que depois de tanto tempo nada valeu a pena.

O Tudo e o Nada

André Magalhães

Somo feridas em busca de um remédio.
Somos remédios que não curam dores.
Somos dores que procuram o alívio.
Somos alívios que escondem o pranto.
Somos prantos que caçam alegria.
Somos alegrias que homenageiam a glória.
Somos glórias que despencam na sarjeta.
Somos sarjetas que aprisionam corpos.
Somos corpos que anseiam por vida.
Somos vidas que vagueiam perdidas.
Somos perdidos que procuram caminhos.
Somos caminhos que não levam a nada.
Somos nós! Somos ébrios! Somos vida!
Somos o nada que constrói o tudo.
Somos o tudo que desaparece na fumaça.
Somos a fumaça que denuncia o fogo.
Somos o fogo que incendeia a alma.
Somos as almas que se penitenciam.
Somos penitências que nunca são pagas.
Somos as pagas que se enchem de dívidas.
Somos as dívidas do banco do amor.
Somos os amores que buscam companhias.
Somos as companhias rejeitadas pelo tempo.
Somos os tempos de um verbo qualquer.
Somos nós! Somos ébrios! Somos vida!
Somos românticos que mandam flores.
Somos as flores que exalam perfumes.
Somos perfumes que enjoam a beleza.
Somos belezas que criticam as formas.
Somos formas que procuram os gestos.
Somos gestos que afirmam mentiras.
Somos mentiras que dizem verdades.
Somos verdades que enganam a crença.
Somos crenças que imitam a fé.
Somos a fé que se deixa conduzir.
Somos condutores perdidos no espaço.
Somos espaços vazios infinitos.
Somos nós! Somos ébrios! Somos vida!
Somos inquietudes que procuram descanso.
Somos descansos cansados de esperar.
Somos esperas pelo que nunca chega.
Somos finais de uma espécie em extinção.
Somos nós! Somos noite! Somos boêmios!
Somos seres comuns que nos fantasiamos de especiais para cortejar o sonho.
Somos o próprio sonho definhando a cada instante.
Somos o instante em que se apresenta à morte.
Somos a morte das madrugadas que anseiam o dia.
Somos o dia que nunca renasce.
Somos o renascer que não se nega a luz.
Somos a luz que clareia dos passos.
Somos os passos que cambaleiam ébrios.
Somos os ébrios que bebem desgosto.
Somos os desgostos que amargam o doce.
Somos os doces de sabor enganoso.
Somos o engano que Deus cometeu.
Somos nós! Somos sós! Somos gente!
Somos noite! Somos boêmios! Somos vida!

Pescaria de Sonhos

André Magalhães

Eu queria ouvir a valsa...
lenta valsa,
temperar com salsa o peixe
e repartir.
Partir da vida,
mas... deixar saudades.
Eu queria ser a balsa...
que bailando a valsa, nas ondas,
salvaria o náufrago, me tornando bálsamo da vida.
Eu queria ser a ida...
E em sendo me amaria,
juntos, dois amantes...
Amantes morreríamos.
Eu queria ser você!
E em sendo me amaria,
juntos, dois amantes...
Amantes morreríamos.
E morrendo...
Nossas almas leves balariam a valsa,
alegre valsa,
triste da partida.
Da ida ou da volta à vida...
Verdadeira vida.
Enfim, sós então,
bailando a valsa,
repartiríamos o peixe,
temperado, à salsa...
E seriamos por fim felizes

Vale Saber

André Magalhães
Que o homem mais feliz do mundo não é o que tem dinheiro, é o que tem amigos; que a vida é Deus confiando em nós; que o passado deixa marcas quando nós não marcamos o passado; que o pequeno se torna grande quando não tem acanhamento de ser pequeno; que uma pessoa se torna santa, a partir do instante em que deseja sê-lo; que a velhice não é decrepitude, é sinal de luta; que, em todo santo, há traço de um pecador e, que em todo pecador, há traços de um santo, que a oração não é Deus falando, é Deus oferecendo-se para ser ouvido; que a juventude não é uma ameaça que se teme; é um poder que se conquista.Convém sabido: que o homem não se salva só por ter praticado a justiça. É necessário que além de ter praticado a justiça, pratique também o amor; que desventurada não é só a criança que não tem nada, pode ser também a criança que tem tudo; que o casamento não é só a junção do homem com uma mulher, mas é a união dos dois. A junção aproxima um do outro, mas é a união que funde, num só, os dois; que o amor é curvo quando não é retribuído diretamente, é retribuído por via indireta, quando não é devolvido por alguém a quem o demos, é retribuído por outrem; que a religião não significa simplesmente estabelecer relacionamento entre o homem e Deus, mas, também, entre o homem e os demais.É válido saber, que não é falta de fé se chorar por alguém que morre. É a fé chorada; que a fé não é só acreditar em algo, mas dar valor ao algo em que se acredita; que nós morremos a partir do instante em que deixamos de amar, de esperar e de crer; que o amor é substantivo abstrato na gramática e concreto na vida; que o maior matemático do mundo é aquele que descobriu Deus como principio e fim.Vale saber, que há muita gente feliz porque segui Cristo, mas nunca infeliz por tê-lo seguido; que não é errado crescer, errado é crescer no corpo e não crescer no espirito.Vale saber que o terrível não é ter inimigo, mas chegar ao ponto de ser obrigado a esquecer um amigo; que a grande certeza da vida são as mudanças; que até o tempo muda quatro vezes por ano; que mais vale morrer em paz que viver em guerra; que o sofrimento, às vezes, tem o condão de transformar as pessoas em melhores, que Cristo não nos manda ser iguais às crianças, mas, tão somente a elas semelhante; que aquele pintor que faz com que o quadro seja formoso, não tenta fazer dele uma obra suntuosa, mas, sim, mostrar sua simplicidade; que ser administrador é uma coisa e ser financista é outra. O financista quer gastar e o administrador sabe como gastar.É bom se ter convicção de que mais vale fazer história que simplesmente conhecer os segredos da geografia; de que o filósofo define a paz, mas é o homem santo que a constrói; de que amar verdadeiramente é um verbo que não admite condicional nem futuro, só o presente; que o grande pecado de alguns físicos é não serem igualmente metafísicos e o grande pecado de alguns metafísicos é não serem físicos também.Vale saber que viver é saber sorrir para a vida com suas linhas retas, com suas linhas curvas, sinuosas e, até com suas linhas quebradas.

Ajude-me a entender o mundo

André Magalhães
Já não durmo nas canções de ninar muito embora os sonhos persistam em existir, pois, alguns sonhos esvanecem, outros renascem numa rapidez de noite após noite nas trevas rotineiras de viver o tempo.Por favor, me ajude a entender o mundo!Eu quero sentir a criança que há dentro de mim, faze-la gritar para o universo e rodar a ciranda que a vida nos levou.E a vida já não é mais a mesma! O sorriso já não é mais o mesmo! A pureza já não existe.Há em tudo um toque de maldade e um tudo de competição. A disputa se acirra a todo o instante o que me faz sentir falta, sentir saudades dos momentos puros escritos a lápis da infância e que a borracha do mundo adulto apagou. Já se foi a ilusão de ser o que pensava, desejava ser, e não fui e nem jamais serei. Sonhei em ser advogado, mas a justiça me decepciona.Já se foi a picula, o guerreou, a ordem unida, o garrafão, a patinete, a bola de meia jogada nos “recreios” do colégio. Já não há mais patinete! Será que o mundo mudou tanto? Porque será que as crianças de hoje já não brincam de capitão como as de ontem? O fato é que não há mais patinete! Oh! Meu Deus! Me ajude a entender o mundo pois quero dormir ninado na melodia do “Boi da cara preta”. Eu quero as crianças filando aula para empinar periquito feito de páginas de caderno, antes de eu ser vencido e jogado ao solo baleado por uma assaltante que não teve infância nesse mundo estúpido.Eu quero sentir a criança novamente, afinal, ainda não morreram em definitivo certas vontades que permaneceram dentro de mim. A vida adulta ainda não possuiu por todo a minha capacidade de vencer as desilusões, angustias e maledicências.Não! Não é saudosismo. Às vezes afloram em mim num misto de pranto e recordações as coisas de tão pouco tempo atrás, e choro no fundo do peito e às vezes literalmente olhando as crianças de hoje.Na verdade o elo que me liga a infância passada é a vontade de ver todo adulto aflorando a criança que existe dentro de cada um de nós. Por onde andam os periquitos, as patinetes com guidom, freios e outros apetrechos de fundo de quintal?E já não há mais quintais. Foram substituídos pelos play-grauds de grandes prédios.Isso petrifica o meu coração.Contudo acredito que deva haver alguém, em qualquer lugar que saiba contar histórias como “D. Baratinha e seu Ratão” do “Velho e o Mar”.
Por favor, me ajudem a entender o mundo.
Que dor no peito!
Só descobrimos o quanto fomos felizes depois que essa nuvem passageira se dissipa no céu dos nossos sonhos e da nossa vida.
Eu imploro, ajude-me a encontrar alguém que me faça entender o mundo.

1ª Carta à Manoela

André Magalhães
Pensando como um Anjo Louco que sou...

Todo o misticismo que te cerca é fruto da ausência de fé. És devota de um mundo inexistente e sem tradição. É banal esse temperamento lúgubre que insistes em deixar te governar. De certo, o medo que possuis, também é descendência de antigos costumes praticados pecaminosamente. És herança de teus antepassados e todos nós devemos amar o novo. Bela é a vida e terás de atravessa-la de maneira construtiva e sublime. Tuas obras terão que durar, não para a eternidade porque o tempo atreve-se a tudo, mas terás de deixar marcas ainda que em ruínas ou cicatrizes.
Haverá ainda de controlar teus impulsos e admitir de forma triunfal a entrada de Deus na tua vida. Digo do teu “Deus” que por uma questão de necessidade para ordem das coisas vindouras terá de aceitar como o Deus dos outros seres.
É essencial para você crucificar definitivamente essa imagem absurda de que tenhas vindo ao mundo por acaso, é verdade que o meu mundo não é o seu, mas por obrigação e necessidade se torna uma só morada.
O horizonte, Manoela, que anseias e ambicionas alcançar não é longínquo nem irreal, é simplesmente inconquistável. Sonhos e fantasias serão substituídos no devido tempo com o surgimento da sua capacidade de gerar coisas verdadeiras. Não imagine ser insuperável a barreira que te rodeia, é assim para todos Manoela, todos nós temos obstáculos a ultrapassar é este o real sentidos de nossas vidas, cabe a você transforma-los em simples tropeço, e assim compassadamente alcançares o teu objetivo. Não penses que assim então estarás no final da tua existência. Principiante entenderás com maturidade a razão da tua vida. Serás autêntica e comum. Conseguirás assistir o desabrochar de cada momento importante desde a tua origem. Serás você mesma Manoela. Desesperadamente lutarás e verás que existe um motivo significativo para viver. Tua subsistência será uma história e só então findará a tua complicada passagem pelo mundo.
Tudo o que tento dizer Manoela é que simplesmente emocionar o mundo não é suficiente. É necessário entendê-lo, cativa-lo e respeita-lo, não deves deformar a plenitude do teu espírito sem que antes incorpore a bondade dos teus atos do cotidiano.
Sendo sábia, sobreviverás a calunias, leiga como tentas ser, não mereces nem a perspectiva de acertar. Não faz sentido Manoela, lutar como um bárbaro pela manhã em busca de uma fantasia, para tornar-se um cordeiro ao anoitecer.
Minha querida Manoela, não existe idade para se compreender que tudo que define a vida está na mais pura sensação de conquistar o desconhecido. Precisas conquistar a paz e o amor dos idosos que distribuem sua experiência sem se preocupar com a geração que chegam e lhes chamam de alienados.
Não desejo regras ou leis Manoela, permita tão somente que a relação da qual lhe falo seja aplicada construtiva e objetivamente, sem limites e sem enganos.
Não te quero perfeita, te desejo equilibrada, minha amada Manoela.

Conselhos meus e os do Papa

André Magalhães
Pensando como um Anjo Louco que sou...
Com quem tive a minha primeira experiência sexual eu não consigo lembrar, mas o assunto me veio à cabeça quando tive conhecimento das últimas declarações do papa Bento XVI na sua recente visita à Áustria. Assim falou o papa: “a Europa se tornou pobre em crianças. Queremos tudo para nós mesmos, e talvez não confiemos o suficiente no futuro...” e também em Viena como já o havia feito em sua estada no Brasil criticou duramente o aborto e o uso de preservativos e todo método anticoncepcional . É sabido que após décadas de estagnação moral, vivemos um período de “liberdade” absoluta. Relutei para não escrever sobre religião, mas o dogma da Igreja Católica já está causando estragos. É inadmissível fazer sexo hoje sem camisinha como impossível é permitir que Bento XVI exponha sua posição ou da igreja a qual ele representa fazendo intervenções na política de países considerados laicos, sem nenhuma contestação. Não adotar maneiras que evite a gravidez indesejada numa sociedade cada vez mais combalida é levar ao flagelo toda obra divina. Tentei lembrar como obtive o primeiro êxtase para enfatizar também que, naquela época (já se vão mais de duas décadas) os casais viviam mais moderadamente e a Igreja precisa atualizar-se, mas ainda seria muito interessante se a juventude de hoje novamente se apaixonasse pela vida e não abandonasse o afeto consumindo apenas o prazer. Todos haveriam de repensar seus atos na paquera depois de ler “Namorado” de Carlos Drummond de Andrade, ler e atuar, mas daí a aceitar posições extremamente radicais e que principalmente põe em risco a vida do ser humano é piegas com todo o respeito que V. Santidade merece e eu como simples mortal tenho, ouso discordar e estranhar tal posição. Minha reflexão aguçou-me também não a julgar, mas para lembrar aos jovens que apesar da aparente liberdade sexual que desfrutamos hoje os riscos também dobraram. Vamos analisar algumas questões apenas na base das suposições pois somente nela posso habilitar-me. Traição nos dias de hoje tornou-se corriqueira, para não dizer “normal” . Agora perguntemo-nos: porque tantos crimes passionais? Parece-me obvio afirmar que o homem ainda ama e se ama não admite o terror da perda pela traição. A base disso não justifica qualquer ato insano, mas permite concentrar atenção ao custo dessa chamada modernização. Como um gabiru peço atenção ao romantismo e àqueles gestos dito antigos como enviar flores, comer pipoca no cinema, correr na chuva de mãos dadas, curtir um luau e principalmente viver do e com amor sincero. A troca de prazeres deve e pode acontecer sempre que estivermos ao lado da pessoa escolhida, mas acima de tudo amada. Tem de haver intensidade em tudo que fazemos e como “a vida nada mais é do que aquilo que acontece enquanto fazemos planos” temos de vivê-la sem arrependimentos. Nunca existiu vergonha em declarar-se apaixonado, justo por isso, ame, compreenda, modernize-se, chore, dance, ria, e use muita, muita camisinha. Eu assim como o papa me preocupo com o futuro dos nossos jovens, aliás Nicolau Maquiavel também fazia o mesmo quando afirmava: “ Não se pode chamar de ‘valor’ assassinar seus cidadãos, trair seus amigos, faltar a palavra dada, ser desapiedado, não ter religião. Essas atitudes podem levar à conquista de um império, mas não à glória”. Pelo que noto a única certeza é que somos o que fazemos, sendo assim um VIVA ao namoro seguro.

Percepção

André Magalhães

Bem te encontro
E despejas em mim,
o olhar de rua ira mais profunda
eu, que tanto prazer tenho em mirar-te,
e que sonho em amar-te
por toda eternidade.
Bem balbucia,
E sai de ti
Palavras ofensivas e de dor
Eu que declamo poemas
Porque és minha grande musa e única inspiradora.
Bem levanto os braços
E atinge o meu corpo com violência
Eu que esperava afagos, abraços e suspiros.
Bem pensas
E percebo no seu semblante
O terror da traição.
Eu que prezo a fidelidade como a vida.
Bem se cala,
E repentinamente sinto no teu silêncio
O instante impregnado de dúvidas
Na certeza que o ódio dominou o inefável
Ah! Findo pacientemente a minha condição de suportar
Interrompo estes pensamentos delirantes
Que desliga a razão e minha linha de raciocínio
Logo ela que afirma categoricamente:
Tudo dito é um sonho
Jamais viria de ti
Esta genialidade que é
Odiar amando


Tempo que Foge

Ricardo Gondim

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em
reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo.
Não vou mais a workshops onde se ensina como converter milhões usando uma fórmula de poucos pontos. Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos parlamentares e regimentos internos. Não gosto de assembleias ordinárias em que as organizações procuram se proteger e perpetuar através de infindáveis detalhes organizacionais.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de "confrontação", onde "tiramos fatos à limpo".
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral. Já não tenho tempo para debater vírgulas, detalhes gramaticais sutis, ou sobre as diferentes traduções da Bíblia. Não quero ficar explicando porque gosto da Nova Versão Internacional das Escrituras, só porque há um grupo que a considera herética. Minha resposta será curta e delicada:
- Gosto, e ponto final!
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: "As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos". Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.
Já não tenho tempo para ficar explicando aos medianos se estou ou não perdendo a fé porque admiro a poesia do Chico Buarque e do Vinicius de Moraes; a voz da Maria Bethânia; os livros de Machado de Assis, Thomas
Mann, Ernest Hemingway e José Lins do Rego. Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; de quem sabe rir de seus tropeços, de quem não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a "última hora"; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados e deseja andar humildemente com Deus.
Caminhar perto delas nunca será perda de tempo.